quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Alice Vieira

Alice Vieira nasceu em Lisboa, no ano de 1943. Concluiu a licenciatura em Filologia Germânica em 1967. Apenas trabalhou como professora num curto período de tempo e a partir de 1969, Alice Vieira dedicou-se ao jornalismo profissional. Desde cedo cativada para a literatura juvenil, foi a grande revelação portuguesa nesta área nos anos 80, tendo sido logo premiada com a sua primeira publicação, Rosa, Minha Irmã Rosa, em 1979, com o Prémio de Literatura Infantil «Ano Internacional da Criança».
É também conhecida pelos artigos e crónicas que continua a publicar em jornais e revistas. Considerada uma das mais importantes autoras portuguesas de literatura infanto-juvenil, os seus livros foram premiados diversas vezes. As suas obras foram traduzidas para várias línguas, destacam-se o alemão, o búlgaro, o basco, o castelhano, o galego, o francês, o húngaro, o neerlandês, o russo e o servo-croata.

"Porque escrevo para crianças?

Todos nós gostamos de encontrar um culpado para as aventuras em que nos metemos... É cómodo, é fácil, a gente aponta e diz: «foi por causa dele».
Pois eu também tenho um culpado: posso espetar bem o meu dedo indicador e dizer: - O culpado foi ele. Ele é que me levou para esta vida...
Neste caso foi ela. Acho que se não tivesse sido a queixa da minha filha, já lá vão uns sete anos, eu não me teria metido nisto... Portanto, a culpa foi toda, toda dela!
Um dia a Catarina chegou a casa e disse:
Alice Vieira
- Já li todos os livros que há para ler.
Fez uma pausa e disse:
- E agora, o que é que leio?
A Catarina tinha então nove anos, lia muito: não, evidentemente todos os livros que existiam, mas todos os que habitualmente se davam a quem tinha a sua idade.
- E agora? – repetia ela, com aquele ar solene que arranja nas ocasiões difíceis... Eu ia tentando dar uma ajuda (lê este, e mais este, e mais aquele) mas eram ajudas inúteis (já li, já li, já li...). Foi então que dei comigo a dizer-lhe:
- Então, se já leste tudo o que há, vamos nós as duas escrever um livro!
Meti papel à máquina e do bater dos dedos nas teclas saiu esta frase: «Quando a minha irmã nasceu o meu desapontamento foi tão evidente que a minha mãe, abafada entre lençóis e cobertores da cama do hospital, me disse: Ela vai crescer num instante!»
Olhei para esta frase, uma, duas, muitas vezes, e a partir dela outras vieram, e mais outras, até que o primeiro capítulo do livro estava feito. E cada capítulo que nascia era lido e discutido com a Catarina, feliz de participar naquela aventura...
E nunca mais parei. Tudo por causa da Catarina. Que hoje continua a ler tudo, e que escreve melhor do que eu.”

Antologia Diferente: De que são feitos os sonhos?
Porto: Areal Editores, 1986, pág. 183




Leituras

Rosa, Minha Irmã Rosa
“ (…) o nascimento da irmãzinha Rosa provoca conflitos internos a Mariana, conflitos esses que ao longo das páginas se vão resolvendo da melhor maneira (…)" 
 (Ilse Losa - “A propósito de dois livros de Alice Vieira –
Contos de fadas, sim ou não?”.O Jornal, 3/4/1981).



Começa assim (Capítulo I):

"Quando a minha irmã nasceu, o meu desapontamento foi tão evidente que a minha mãe, abafada entre lençóis e cobertores da cama do hospital, me disse:
      - Ela vai crescer num instante!
      Assim como se me pedisse desculpa nem ela saberia ao certo de quê.
      Num instante.
      Num instante?
      Num instante descia eu a rua para ir a casa da Rita trocar cromos ("não te compro mais enquanto não colares na caderneta todos os que tens!", dizia a mãe tantas vezes), ou para lhe emprestar um livro, ou ela a mim.
      Num instante bebia eu o leite nos dias em que me atrasava, para apanhar a carrinha da escola (...)
      Num instante ficava em água o gelo, em tempo de calor - e o que eu e a Rita tínhamos rido no dia em que a Chica estava cheia de medo que os cubos de gelo entupissem a pia...
      Não, a minha irmã não ia crescer num instante."

Um livro delicioso... repleto de emoções, dúvidas e muitas aventuras!



Obra disponível na Biblioteca Municipal Miguel Torga, Biblioteca escolar da EB1 de Arganil, Folques, Sarzedo, Coja, S. Martinho da Cortiça e Pombeiro da Beira e nas Bibliotecas Escolares da EB 2,3 de Arganil e Coja.

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