“Há pessoas que não acreditam em ilhas.
Acham que as ilhas são coisas inventadas,
em que só se acredita quando se é criança. Por isso,
chega um dia em que julgam que já não são crianças
e deixam de acreditar em ilhas.
Outras pessoas pensam que uma ilha é uma terra
rodeada de mar e de névoa por todos os lados.
Todavia, no meio da névoa, dentro da ilha, está-se
em muitas mais coisas do que numa terra,
pode até estar-se num sítio desconhecido dentro de nós.
Chamo-me Manuel e vivo numa ilha, ou uma ilha vive
em mim, não tenho a certeza, uma ilha rodeada de mar
e de névoa por todos os lados,
principalmente pelo lado de dentro.”
Fonte: Os piratas de Manuel António Pina
Areal Editores, 1986
Ilustração da capa do livro Gigões & Anantes e outras histórias Editado pela A Regra do Jogo em 1974 |
"A cabeça no ar
As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá para dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
(embora sem ver),
e ficar muito quietinho a ser,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E isto tudo a saber
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar."
in O pássaro da cabeça
Capa do livro Os piratas
Editado pela Areal Editores em 1986. |
Prémio Gulbenkian: Melhor Livro Publicado em Portugal em 1986/1987
O Inventão, editado pela Afrontamento em 1987.
O Inventão, editado pela Afrontamento em 1987.
Capa do livro O Tesouro editado pela Associação 25 de Abril em 1983 |
Livro disponível na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil
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