segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"Morreu Manuel António Pina"


“Há pessoas que não acreditam em ilhas.
Acham que as ilhas são coisas inventadas,
em que só se acredita quando se é criança. Por isso,
chega um dia em que julgam que já não são crianças
e deixam de acreditar em ilhas.
Outras pessoas pensam que uma ilha é uma terra
rodeada de mar e de névoa por todos os lados.
Todavia, no meio da névoa, dentro da ilha, está-se
em muitas mais coisas do que numa terra,
pode até estar-se num sítio desconhecido  dentro de nós.
Chamo-me Manuel e vivo numa ilha, ou uma ilha vive
em mim, não tenho a certeza, uma ilha rodeada de mar
e de névoa por todos os lados,
principalmente pelo lado de dentro.”

Fonte: Os piratas de Manuel António Pina
Areal Editores, 1986


Manuel António Pina, escritor, poeta, jornalista morreu no passado dia 19 de Outubro. 
Nasceu no Sabugal (Beira Alta) a 18 de Novembro de 1943. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra mas é jornalista desde 1971. Autor de peças de teatro, obras de ficção e crónica para além da literatura infanto-juvenil. Em 2011 recebeu o Prémio Camões. Destacamos algumas das suas obras infanto-juvenis, para ler e reler:

Ilustração da capa do livro Gigões & Anantes e outras histórias Editado pela A Regra do Jogo em 1974


"A cabeça no ar

As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá para dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
                (embora sem ver),
e ficar muito quietinho a ser,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E isto tudo a saber
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar."

in O pássaro da cabeça

Capa do livro O Pássaro da Cabeça
Editado pela A Regra do Jogo em 1983.



         Capa do livro Os piratas
Editado pela Areal Editores em 1986.

"Penso coisas tão profundas e sinto-me tão mal que penso se não serei um Intelectual.
E penso coisas tão mal e sinto-me tão profundo que devo ser o Maior Intelectual do Mundo!"
In "O Inventão"


Prémio Gulbenkian: Melhor Livro Publicado em Portugal em 1986/1987
O Inventão, editado pela Afrontamento em 1987.


Capa do livro O Tesouro editado pela Associação 25 de Abril em 1983


Livro disponível na Rede de Bibliotecas do Concelho de Arganil


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