quarta-feira, 14 de setembro de 2016

“Uma aventura na escola”, um livro de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

"Uma aventura na escola"
Texto de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Editado pela Caminho em 1984

«— Quem? Mas quem? 
— É inacreditável! 
— Inconcebível! Sou professora há vinte anos e nunca vi nada parecido! 
— Palavra de honra, que não posso imaginar qual foi a ideia! 
— Uma coisa assim! 
— Quem é que pode ter feito uma coisa destas? Mas quem? 
Naquela manhã, parecia que um vento de loucura tinha varrido a escola. Os professores discutiam acaloradamente ao cimo da escada e em grupos, espalhados ao acaso. Os empregados andavam de um lado para o outro, a gesticular, a bramar, a barafustar. Pareciam furiosos e assustados também... Os alunos corriam todos na mesma direcção, chamando os colegas: 
— Anda ver! 
— Que barraca! 
— Quem terá sido? 
A balbúrdia era enorme! As gémeas pararam surpreendidas. Que seria aquilo? Já tinha tocado, mas ninguém parecia importar-se, o que lhes dava muito jeito, porque, nessa manhã, o despertador não tinha funcionado e elas vinham com medo de já ter falta. Mas, o que quer que estivesse a provocar aquelas reacções, devia ser bem grave! 
— O que é que terá acontecido, ó Luísa? 
— Sei lá! Coisa boa é que não foi... 
Tentaram perguntar a um colega, mas ele limitou-se a dizer: 
— Venham daí, venham... 
As gémeas encolheram os ombros e seguiram-no, escada abaixo, curiosas. 
— Parece que... 
A Teresa parou, estupefacta. Não era para admirar que a escola estivesse naquele desvario! 
A toda a volta de um dos pavilhões, alguém tinha escavado um fosso! Tinham mesmo furado o cimento que havia na frente e num dos lados, e, com ferramentas poderosas, tinham aberto uma espécie de vala durante a noite! 
— Isto é espantoso! — murmurou a Luísa, mal acreditando no que via. 
— Para quê? Mas para quê? — repetia uma professora ali ao lado. 
Realmente, não se entendia a finalidade daquela obra absurda. A escola em peso concentrava-se ali, sem saber o que pensar. Toda a gente discutia o assunto, toda a gente dava palpites, trazendo para a conversa ideias perfeitamente loucas! E os mais novos, divertiam-se, radiantes, a saltarem sobre o fosso, ora tomando balanço para atingir a porta do pavilhão ora saltitando a pés juntos, de dentro para fora e de fora para dentro. Como tinha chovido de madrugada, no fundo do fosso havia uma altura de água que tornava os saltos ainda mais excitantes. Quem caísse lá dentro, caía à água! Talvez por isso, um dos rapazes lembrou-se dos castelos rodeados de água por todos os lados, com uma ponte levadiça na porta principal... E, sem dizer nada a ninguém, correu em busca de uma tábua grossa e larga que pudesse servir de ponte! Como ali perto havia um prédio em obras, não lhe foi difícil encontrar o que queria. E, exultante com o seu achado, estendeu a tábua sobre o fosso, e gritou, correndo-lhe por cima: 
— Ao ataque! Ao ataque! Vou conquistar este castelo! 
O desafio não ficou sem resposta. Em poucos instantes, tinham-se formado vários grupos, uns da parte de dentro, a defender, outros da parte de fora, a atacar, agitando paus, usando mochilas a fazer de escudos, tudo na maior algazarra. 
— Morte ao inimigo! 
— Ah, cães! Ah, cães! 
— O castelo é nosso! É nosso! A Teresa e a Luísa observavam aquilo tudo, deliciadas! Estava uma manhã linda, de Outono. Um ventinho fresco dispersara um pouco as nuvens, que se amontoavam no céu, tomando formas esquisitas e várias tonalidades, desde o branco muito branco até ao quase cinzento. O céu via-se às tiras, de um azul luminoso e brilhante. E o Sol derramava raios dourados sobre aquela cena louca, que os miúdos animavam com os seus gritos, simulando guerras. 
E a certeza de que a primeira aula já lá ía, pois faltavam poucos minutos para tocar, ajudava a tornar aquela manhã de escola numa manhã inesquecível. — Que paródia, Luísa! — Mas quem é que terá feito uma coisa destas? 
— Parece que isso é o que está toda a gente a perguntar!»

In Uma Aventura na Escola, pp. 24-25

Livro Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para 5º Ano de Escolaridade 

Ilustrações de Arlindo Fagundes

Obra disponível na rede de Bibliotecas do concelho de Arganil
Boas leituras!

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