O Último Moicano Autor: J. Fenimore Cooper Tradução: Maria de Mendonça Soares Edição: Público Comunicação SA, 2004 |
Começa assim...
”Cora e Alice são filhas do comandante do
Forte William Henry, escoltadas numa expedição pelos territórios inimigos até
reencontrarem o pai. Esta é a parte ficcional do romance "O Último Moicano", de James Fenimore Cooper. As desventuras
das duas raparigas e da sua escolta - traída pelo índio Magua, Raposa Matreira,
chefe dos Hurões, que tenta assim vingar-se do pai das jovens, a expedição é
salva pelo batedor Olhos-de-Águia e os seus amigos índios, entre eles, Uncas, o
último dos Moicanos, filho de Chingachgook.
Durante a Guerra entre os Franceses e os Índios, o livro
documenta o massacre do Forte William Henry pelos franceses, em 1757. Esta é a
parte verídica do livro. Cooper conhecia alguns índios e delineou uma história
de conflito entre duas tribos opostas: os Delawares (os Moicanos) e os
"Mingos". Apesar das imprecisões históricas que alguns criticaram no
escritor americano, as descrições das tribos permitiram a Cooper criar uma
imagem que perdurou no imaginário e na consciência da América durante mais de
dois séculos.
Os leitores ficaram tocados pela dualidade das versões: a
visão romântica do destino cruel dos índios e a justificação histórica dos
colonos para a exterminação dos mesmos. Foi Sir Walter Scott que inspirou
Cooper a delinear estereótipos de luz e escuridão, bem e mal, e criar
dicotomias, por exemplo, nas mulheres, da imaculada para a impura.
No livro, os ingleses têm que se render e retirar do forte,
perante a investida dos franceses, que sitiaram o local. Mas os Hurões
atemorizam as mulheres e as crianças, matando-as ou raptando-as, como a Alice e
Cora.
Raposa Matreira já no princípio dissera a Cora que era ela
que ele queria como vingança ao seu pai: "Quando as feridas arderem nas
costas do Hurão, ele saberá onde encontrar uma mulher para lhe aliviar a dor. A
filha de Munro [o comandante] irá buscar-lhe água, cavar o milho e cozinhar o
que ele caçar. O corpo do homem branco dormiria entre os seus canhões, mas o
seu coração ficaria ao alcance da faca de Raposa Matreira."
O ataque ao forte de William Henry pelos franceses e os
seus aliados, os Hurões, é um dos factos verídicos do livro. É o narrador que a
isso se refere: "O espectáculo sangrento e desumano a que fizemos
referência no capítulo anterior vem referido nas páginas da história colonial
com o merecido título de 'O Massacre de William Henry'." E continua:
"E é de longe muito maior esta mancha do que a que um anterior e muito
semelhante acontecimento deixou na reputação do comandante francês e que não
foi inteiramente apagada pela sua precoce e gloriosa morte. O tempo foi-a
desvanecendo, e milhares de pessoas agora sabem que Montcalm morreu como um
herói, nas planícies de Abraão, devem também ficar a saber quanto lhe faltava
de coragem moral sem a qual nenhum homem pode ser verdadeiramente grande."
"Moralismos" à parte, o resto do livro é sobre o
salvamento das duas raparigas. Não se pode revelar se Uncas e os amigos
conseguem ou não salvar Alice e Cora das mãos dos Hurões. Mas outro momento
alto é a aceitação, pela tribo Delaware, de Uncas como chefe dos Moicanos. Uncas é um jovem destemido, forte e orgulhoso
da sua tribo.
É ele que defende Olho-de-Águia - o branco "adoptado" pelos índios e que aprendeu a escutar os ruídos da floresta como um índio - quando a tribo quer expulsá-lo do grupo, por ser "rosto-pálido". "Demos-lhe o nome de Olho-de-Águia porque a sua vista nunca falha. Os Mingos conhecem-no melhor pela morte que ele espalha sobre os seus guerreiros. Para eles é Carabina Comprida", diz Uncas, calmo, mas firme."
É ele que defende Olho-de-Águia - o branco "adoptado" pelos índios e que aprendeu a escutar os ruídos da floresta como um índio - quando a tribo quer expulsá-lo do grupo, por ser "rosto-pálido". "Demos-lhe o nome de Olho-de-Águia porque a sua vista nunca falha. Os Mingos conhecem-no melhor pela morte que ele espalha sobre os seus guerreiros. Para eles é Carabina Comprida", diz Uncas, calmo, mas firme."
James Fenimore Cooper (1789-1851) |
"A origem dos nomes
Como Sir Walter Scott e outros escritores seus
contemporâneos, Cooper criou uma enorme galeria de personagens - cerca de 40
por livro, a que "O Último Moicano"
não é excepção. Quase todas têm uma "alcunha" e muitas ficarão
conhecidas na história da literatura, sobretudo pelo nome que Cooper lhe deu.
A "James
Fenimore Cooper Society", na internet, mostra que são especialmente os
índios que têm vários nomes, alguns no original, outros que se foram deturpando
com as traduções para outras línguas. Assim, 1286 personagens de todos os
romances de Cooper dão um total de 1536 nomes. Isto porque, como é o caso de
"O Último Moicano", cada
índio tem o seu nome próprio, o seu nome de guerra e o nome que as tribos
inimigas lhe deram. O que confere ao romance de Cooper uma riqueza de descrição
de caracteres impressionante e, acima de tudo, um jogo aliciante sobre quem é
esse tal "Carabina Comprida", "Veado Ligeiro" ou
"Serpente Grande", ou seja, Olho-de-Águia, Uncas ou Chingachgook,
respectivamente.”
Por Raquel Ribeiro
Ilustração de Isabel Alves |
" - Falou como um homem. mantenha a cabeça curvada e encolha as pernas, pois o seu tamanho podia denunciá-lo cedo demais. Conserve-se calado, o mais que puder; e quando se vir obrigado a falar, solte um daqueles seus berros, que servirão para lembrar aos índios que o senhor não é tão responsável quanto deveria ser. Se mesmo assim lhe arrancarem o escalpe, o que eu não acredito que aconteça, Uncas e eu nunca esqueceremos a sua morte e vingá-lo-emos como verdadeiros amigos."
Fonte: contracapa do livro
Livro disponível na rede de bibliotecas do concelho de Arganil
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