No dia 2 de abril assinala-se o Dia Internacional do Livro Infantil, data em que
comemora o nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. A
mensagem de 2014 é da autoria da escritora Siobhán Parkinson e ilustrada
por Niamh Sharkey.
Os leitores perguntam muitas vezes aos
escritores como é que escrevem as suas histórias – de onde vêm as ideias? Da
minha imaginação, responde o escritor. Ah, sim, dizem os leitores. Mas onde
fica a imaginação, de que é que ela é feita, e será que todos temos uma?
Bem, diz o escritor, fica na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e
palavras e memórias e vestígios de outras histórias e palavras e fragmentos de
coisas e melodias e pensamentos e rostos e monstros e formas e palavras e
movimentos e palavras e ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e
sentimentos e cores e ritmos e pequenos cliques e flashes e sabores e explosões
de energia e enigmas e brisas e palavras. E fica tudo a girar lá dentro e a
cantar e a parecer um caleidoscópio e a flutuar e a pousar e a pensar e a
arranhar a cabeça.
Claro que todos temos uma
imaginação: se assim não fosse, não seríamos capazes de sonhar. Contudo, nem
todas as imaginações são feitas das mesmas coisas. A imaginação dos cozinheiros
tem sobretudo paladares, e a dos artistas mais cores e formas. Mas a imaginação
dos escritores está cheia de palavras.
E nos leitores e ouvintes das
histórias, as imaginações fazem-se com palavras também. A imaginação do escritor
trabalha e gira e molda ideias e sons e vozes e personagens e acontecimentos
numa história, e a história é apenas feita de palavras, batalhões de rabiscos
que marcham ao longo das páginas. E depois chega o leitor e os rabiscos ganham
vida. Ficam na página, parecem ainda rabiscos, mas também brincam na imaginação
do leitor, e o leitor começa igualmente a desenhar e a rodar as palavras de
modo a que a história se crie agora na sua cabeça, tal como tinha acontecido na
cabeça do escritor.
É por isso que o leitor é tão
importante para a história como o escritor. Há apenas um escritor para
cada história, mas há centenas ou milhares ou mesmo milhões de leitores, na
própria língua do escritor ou traduzida para muitas línguas. Sem o escritor, a
história nunca teria nascido; mas sem os milhares de leitores em todo o mundo,
a história não viveria todas as vidas que pode viver.
Cada leitor de uma história tem
alguma coisa em comum com os outros leitores da mesma história. Separadamente,
mas também em conjunto, eles recriam a história do escritor com a sua própria
imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e público, individual e coletivo,
íntimo e internacional. Isto deve ser o aquilo que o ser humano faz melhor.
Continua a ler!
Tradução: Maria Carlos Loureiro
O cartaz em Portugal é da autoria de Ana Biscaia, vencedora do Prémio Nacional de Ilustração do ano passado. |
Um dia feliz recheado de muitas leituras, sonhos e brincadeiras!
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