Hoje partilhamos um belíssimo conto da autoria da Professora Graça Moniz.
Para ler e reler!
Conto de Natal
A noite estava fria. Um frio que enregelava os ossos. Lá fora não havia viva alma, nem os cães da aldeia se ouviam. O silêncio era total.
Naquela pobre casa viviam oito, das dez pessoas daquela família. O pai, a mãe e os seis filhos mais novos, pois os mais velhos já haviam saído para servir em casa alheia.
O sustento da casa vinha do trabalho do pai, que era trabalhador rural na “ Casa do Senhor lá da terra ”. Não havia fome, mas a fartura também não habitava ali. Para o dia-a-dia lá se ia amparando a vida…
A vida era dura, muito duro… o pai trabalhava de sol a sol. As suas mãos eram duras e calejadas do cabo da enxada. A sua cara era enrugada como se de um velho, muito, muito velho se tratasse (só tinha 50 anos). Mas o seu coração era de ouro. Ouro do mais fino quilate!
Naquela noite fria em que tudo à volta enregelava, o pobre homem não deixava que na lareira faltasse a lenha que dava à casa o conforto mínimo para que à volta da lareira pais e filhos se escutassem uns aos outros.
O serão era sempre muito curto, mas o suficiente para os filhos aprenderem um pouco das belíssimas histórias que os pais lhe contavam. Histórias que já eles tinham aprendido com os seus pais e com os seus avós.
Naquela noite, já era Dezembro, aproximava-se o Natal e o filho mais novo que estava sempre muito atento a tudo o que ouvia disse:
- Pai, mãe, por que razão nós não temos prendinhas do Menino Jesus e não pomos os sapatos na chaminé?
- Filho, como podemos ter cá em casa o Menino Jesus se a nossa casa é tão pobre? Ele nunca viria até esta velha casa aqui perdida na serra…- respondeu a mãe
- E por que não pomos os sapatos na chaminé?- Interpelou de novo
- Mano, ainda não percebeste que não pomos os sapatos, porque não os temos…!
Fez-se silêncio! De repente o pai exclamou:
- Tive esta noite um sonho maravilhoso!
- O que foi? – perguntaram todos numa só voz.
“ Eu dormia tranquilamente, quando uma mão muito fofinha e muito meiga me acariciou a barba. Ao acariciar-me disse-me que este Natal ia ser muito diferente na minha casa. Íamos receber uma Visita inesperada. Teríamos uma Ceia como a da casa do patrão. Haveria um saco de presentes junto à porta do quintal. Os vossos irmãos mais velhos estariam cá também. A vossa mãe abriria as gavetas e de todas elas sairiam coisas que até hoje nunca cá tivemos. A fartura seria uma realidade e todos vocês teriam um lindo par de sapatos para usarem pela 1ª vez nas vossas vidas.”
- Mas, havia uma condição … a nossa família tinha de continuar a ser humilde, trabalhadora e educada, como sempre fora.
Se isto fosse respeitado no Natal confirmaríamos o que aquele estranho ser (que não vi, só senti e ouvi) me tinha vindo anunciar.”
Entusiasmados com o sonho agora desvendado, cada um se foi deitar. Era preciso esperar para ver!
Os dias passaram. As lides do pai e da mãe continuaram. Os serões permaneceram iguais.
Estávamos a 24 de Dezembro. Uma manhã em que a neve cobria o monte e eis que de repente a mãe dá um grito de alegria e chama “- venham cá meus filhos, ide chamar o pai ao estábulo das vacas, os vossos irmãos estão a chegar. Louvado seja Deus Nosso Senhor”
Cada um fez o que a mãe pediu e quando o pai chegou já todos estavam sentados à volta da lareira a escutar as aventuras que os irmãos mais velhos tinham vivido para ali estarem naquele momento…
Aproximava-se a hora do almoço e a mãe um pouco angustiada sem saber o que dar a comer à família, lembrou-se de abrir a gaveta da mesa grande, pois, podia ser que por lá ainda houvesse um pouco do toucinho fumado que lá costumava guardar e com ele faria qualquer coisita…
Se bem pensou, melhor o fez e eis senão quando, ao abrir a gaveta tem a maior surpresa da sua vida… dentro estava uma caixa lindíssima e dentro da caixa um bilhete que dizia:
“ Vai à porta do quintal e traz para dentro o saco que lá encontrares. Só tens de por na mesa a toalha mais bonita que tiveres e não te preocupes que tudo o resto vai aparecer!”
A mãe lembrando-se do sonho do marido, não hesitou e fez tudo como havia lido no estranho recado.
Era já a hora do almoço. A toalha, bordada por si, quando era jovem, cobria a mesa. Então foi ao quintal e o saco lá estava. Era tão pesado que precisou de ajuda para lhe pegar. Quando o saco foi pousado no chão da humilde cozinha, e como por magia, a mesa ficou repleta de tudo o que era bom. Tanta comida que nem durante uma semana a conseguiriam comer…
O pai olhava deslumbrado para tudo aquilo. Tinha a sensação que a mão fofinha e delicada lhe acariciava de novo a barba. Olhando os filhos e a mulher com a maior das ternuras deixou cair duas lágrimas brilhantes pela face enrugada…é então que uma voz se faz ouvir vinda lá do fundo do corredor escuro da casa.
- Venham cá depressa estão aqui umas caixas com sapatos para nós…- gritava o filho mais novo
Era mesmo verdade, o sonho estava a ser uma realidade e a que deveriam tal acontecimento?
A mãe, que normalmente não falava muito, perguntou aos filhos: - O que vos parece tudo isto que nos está a acontecer?
E todos em coro responderam: - A nossa humildade e o nosso amor fizeram nascer o NATAL.
Graça Moniz
(Conto de Natal criado pela autora)
Boas Leituras e Feliz Natal!
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