"Uma aventura na escola" Texto de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada Editado pela Caminho em 1984 |
«— Quem? Mas quem?
— É inacreditável!
— Inconcebível! Sou professora há vinte anos e nunca vi nada parecido!
— Palavra de honra, que não posso imaginar qual foi a ideia!
— Uma coisa assim!
— Quem é que pode ter feito uma coisa destas? Mas quem?
Naquela manhã, parecia que um vento de loucura tinha varrido a escola. Os professores discutiam acaloradamente ao cimo da escada e em grupos, espalhados ao acaso. Os empregados andavam de um lado para o outro, a gesticular, a bramar, a barafustar. Pareciam furiosos e assustados também... Os alunos corriam todos na mesma direcção, chamando os colegas:
— Anda ver!
— Que barraca!
— Quem terá sido?
A balbúrdia era enorme! As gémeas pararam surpreendidas. Que seria aquilo? Já tinha tocado, mas ninguém parecia importar-se, o que lhes dava muito jeito, porque, nessa manhã, o despertador não tinha funcionado e elas vinham com medo de já ter falta. Mas, o que quer que estivesse a provocar aquelas reacções, devia ser bem grave!
— O que é que terá acontecido, ó Luísa?
— Sei lá! Coisa boa é que não foi...
Tentaram perguntar a um colega, mas ele limitou-se a dizer:
— Venham daí, venham...
As gémeas encolheram os ombros e seguiram-no, escada abaixo, curiosas.
— Parece que...
A Teresa parou, estupefacta. Não era para admirar que a escola estivesse naquele desvario!
A toda a volta de um dos pavilhões, alguém tinha escavado um fosso! Tinham mesmo furado o cimento que havia na frente e num dos lados, e, com ferramentas poderosas, tinham aberto uma espécie de vala durante a noite!
— Isto é espantoso! — murmurou a Luísa, mal acreditando no que via.
— Para quê? Mas para quê? — repetia uma professora ali ao lado.
Realmente, não se entendia a finalidade daquela obra absurda. A escola em peso concentrava-se ali, sem saber o que pensar. Toda a gente discutia o assunto, toda a gente dava palpites, trazendo para a conversa ideias perfeitamente loucas! E os mais novos, divertiam-se, radiantes, a saltarem sobre o fosso, ora tomando balanço para atingir a porta do pavilhão ora saltitando a pés juntos, de dentro para fora e de fora para dentro. Como tinha chovido de madrugada, no fundo do fosso havia uma altura de água que tornava os saltos ainda mais excitantes. Quem caísse lá dentro, caía à água! Talvez por isso, um dos rapazes lembrou-se dos castelos rodeados de água por todos os lados, com uma ponte levadiça na porta principal... E, sem dizer nada a ninguém, correu em busca de uma tábua grossa e larga que pudesse servir de ponte! Como ali perto havia um prédio em obras, não lhe foi difícil encontrar o que queria. E, exultante com o seu achado, estendeu a tábua sobre o fosso, e gritou, correndo-lhe por cima:
— Ao ataque! Ao ataque! Vou conquistar este castelo!
O desafio não ficou sem resposta. Em poucos instantes, tinham-se formado vários grupos, uns da parte de dentro, a defender, outros da parte de fora, a atacar, agitando paus, usando mochilas a fazer de escudos, tudo na maior algazarra.
— Morte ao inimigo!
— Ah, cães! Ah, cães!
— O castelo é nosso! É nosso! A Teresa e a Luísa observavam aquilo tudo, deliciadas! Estava uma manhã linda, de Outono. Um ventinho fresco dispersara um pouco as nuvens, que se amontoavam no céu, tomando formas esquisitas e várias tonalidades, desde o branco muito branco até ao quase cinzento. O céu via-se às tiras, de um azul luminoso e brilhante. E o Sol derramava raios dourados sobre aquela cena louca, que os miúdos animavam com os seus gritos, simulando guerras.
E a certeza de que a primeira aula já lá ía, pois faltavam poucos minutos para tocar, ajudava a tornar aquela manhã de escola numa manhã inesquecível. — Que paródia, Luísa! — Mas quem é que terá feito uma coisa destas?
— Parece que isso é o que está toda a gente a perguntar!»
In Uma Aventura na Escola, pp. 24-25
Livro Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para 5º Ano de Escolaridade
Ilustrações de Arlindo Fagundes |
Obra disponível na rede de Bibliotecas do concelho de Arganil
Boas leituras!
Boas leituras!
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