quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Uma aventura na noite das Bruxas

Uma Aventura na Noite das Bruxas
Autoras: Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Ilustrações de Arlindo Fagundes
Editorial Caminho, 2000

“Esta aventura começa no Café Mistério, espaço estranhíssimo situado na rua principal da pequena aldeia onde as gémeas, o Pedro, o Chico e o João, mais os seus famosos cães Faial e Caracol, julgavam que iam passar um fim-de-semana pacato. Mas afinal depararam-se imediatamente com uma série de enigmas encadeados. Ao tentar decifrar um, surgia logo outro! A certeza de que naquela aldeia havia segredos ocultos reforçou-se mal transpuseram os muros da velha casa da coruja. Marcas intrigantes, sinos repicando a meio da noite sem ninguém lhes tocar, figuras na parede que pareciam conter mensagens em código... Só mesmo um grupo com muita imaginação se arriscaria a fazer certas experiências, pois ninguém sabia ao certo aonde poderiam ir parar!”



«De facto os altares estavam vazios. Não havia santos, nem cruzes, nem livros de missa, mas Lucy garantiu-lhes de novo que a mãe há muito retirara dali tudo o que pudesse ter valor.
— Nesse caso por que diabo insiste em voltar cá, até numa noite de tempestade?
— A única hipótese é andar à procura de qualquer coisa muito concreta que ele sabe estar aqui ou julga estar aqui.
— Até pode ser o livro dos bruxedos.
— Pois pode...
— Irrita-me que nos ande a fintar com esta limpeza — disse o Chico, remexendo-se sobre a perna que servira de "instrumento arrombador". — Ainda por cima fiquei dorido à conta dele.
Olhando para trás, apercebeu-se de que os cães farejavam insistentemente a escada de caracol.
— Querem ver que o gajo deixou marcas?
De círios em punho, foram examinar os degraus. Nas cabeças dos pregos mais salientes encontraram fiapos de tecido branco. Pedro usou os dedos como pinça e repuxou dois.
— Já sei por que é que ele gritou e depois gemeu. Estatelou-se pela escada abaixo.
— Como é que descobriste?
— Porque há vestígios de sangue nestes pedaços de tecido.
— Olha lá — disse a Teresa com ar de grande descoberta. — Não será a filha do dono do café?
— Hã?
 — A pegada de lama, os gemidos, a tosse, o vulto branco, tanto podem ser de homem como de mulher. — Tens razão — concordou logo a irmã. — Ela andava vestida de branco.
— E falou em sinos.
— O que é que ela dizia?
— Já não me lembro.
— Eu tenho uma ideia. Falou de corujas brancas, de badaladas...
— É verdade, vamos ver se o sino é de prata!
— Se calhar é isso mesmo que ela quer roubar e não consegue!
— Venham daí, tragam um círio.
— Dois. Tragam dois.
Subiram ao campanário numa procissão ansiosa mas logo esmoreceram, porque o sino não deixava lugar a dúvidas: era de bronze.
— Ainda não foi desta que esclarecemos o mistério — lamentou o Chico. E sem que ele próprio soubesse porquê, esticou a cabeça pela abertura do campanário e repetiu a palavra mágica em altos berros:
— Saxurb sadetion.
Fosse por acaso ou fosse por bruxedo, a verdade é que a tempestade engrossou. Poucos segundos depois as nuvens cuspiam raios e trovões em simultâneo e com tal fragor que parecia o fim do mundo. Uma faísca caiu mesmo ao lado da capela e eles fugiram a sete pés para dentro de casa.
No atabalhoamento da fuga, não perceberam qual deles ralhou em voz rouca:
— Pára de armar em feiticeiro! Ou então diz essa maldita fórmula ao contrário...»

Fonte: Uma Aventura na Noite das Bruxas, pp. 96-97

Se quiseres podes ver o filme baseado no livro:
(disponível no youtube) 

Livro disponível na rede de Bibliotecas do concelho de Arganil
Boas leituras!

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